Decoração de ambiente sustenta o mercado de arte em Rio Preto
05.03.22
Decoração de ambiente sustenta o mercado de arte em Rio Preto

Artistas plásticos de Rio Preto afirmam que o mercado sobrevive de decoração, especialmente de ambientes corporativos, porque faltam galerias e consumidores de arte

Rita Fernandes
Publicado em 04/03/2022 às 19:39

Rio Preto “peca” no mercado de artes, segundo os principais artistas plásticos da região. Mas se faltam galerias comerciais, salões de artes, leilões e espaços para exposições e debates também falta o principal: o público consumidor. Embora a cidade seja reconhecida pelo alto poder aquisitivo, são raros os colecionadores e poucas pessoas que investem em obras de arte. “Em Rio Preto, o mercado de arte se resume à decoração”, afirma o artista plástico Beto Carrazzone. Ele explica que geralmente os arquitetos têm papel fundamental, já que são os principais intermediários e responsáveis pela comercialização das obras. A artista plástica Norma Vilar confirma. “Como a cidade não tem tantas galerias, eu vendo meus trabalhos em hospitais privados, clínicas, edifícios comerciais e algumas instituições”, observa. “Na minha galeria, eu recebo o arquiteto como cliente. Ele pode tanto encomendar um trabalho para desenvolver, de acordo com algumas especificações, mas respeitando a minha identidade própria. Como também pode vir, fazer a seleção das obras e levar esses trabalhos até a residência ou clínica”, explica Norma Vilar.


O idealizador do BOOMSPDESIGN (fórum internacional de arquitetura, arte e desing), Beto Cocenza afirma que o mercado está crescendo conforme a própria cidade vai amadurecendo em termos de consumo. “Rio Preto é uma cidade jovem e não tem essa tradição cultural. As pessoas não têm o hábito de valorizar esse tipo de bem. Então, acho que cabe aos empresários, aos artistas e à imprensa divulgar, cada vez mais, o trabalho artístico e fomentar a venda”, afirma. “Além disso, o poder público também precisa ser mais atuante. É um trabalho difícil e lento”, destaca. “A cidade precisa de uma boa galeria, mas eu acho pouco provável que uma galeria de São Paulo queira abrir uma filial em Rio Preto”, diz Cocenza. “Alavancar este mercado é um processo mais lento porque depende de educação e criar essa tradição. Nesse sentido, o poder público poderia dar uma força. Eu acho que, neste caso, o poder público de Rio Preto é muito fraco”, diz. Para a artista plástica Edna Carla Stradioto, faltam espaços para arte visuais em Rio Preto. “Pesquise quando foi a última edição de um salão de arte”, alerta. “Catanduva tem uma Pinacoteca, que é um espaço de arte que recebe exposições. Você entra com um projeto lá e em poucos meses você tem o projeto aprovado”, afirma. “Em Rio Preto os projetos são negados em cinco minutos por falta de infraestrutura, como trilhos para pendurar os quadros. Rio Preto está pecando em investimentos para arte”, afirma.

Shoppings são parceiros

Para alavancar o mercado de arte, a artista plástica Norma Vilar diz que Rio Preto precisa fazer uma viagem formada por galerias, artistas e instituições de arte emergentes. Ela afirma que, atualmente, os shoppings são parceiros e patrocinadores de arte. “Sem os colecionadores e sem os leilões de arte contemporânea, são as empresas mais conscientes e os condomínios que investem. O artista mostra em locais que têm um público mais espontâneo, como os shoppings. O Riopreto Shopping disponibiliza os corredores para exposição e ajuda na parte de logística, montagem e desmontagem. Já o Shopping Iguatemi tem um espaço cultural para o artista expor, mas a venda não fica para venda. Pode gerar negócios a partir dali”, diz. Outros locais que os artistas usam para expor suas obras são a galeria Urban Artes e moldurarias. O Beto Cocenza destaca que o Sesc também tem trazido para Rio Preto as exposições mais importantes. (RF)


Artista reclama da ‘indústria do edital’

Para Edna, só direcionar a verba às minorias sufoca uma classe que tem talento - A artista plástica Edna Carla Stradioto destaca que muitos artistas dependem de recursos públicos destinados por meio de editais publicados pelos governos municipais e estaduais. “Existe uma uma indústria do edital. Pessoas que são especializadas em fazer projetos de envergadura pública e que acabam tendo acesso a esses locais e a esses recursos. E o que se vê é que existe uma preocupação muito grande, da verba pública, para que esses recursos cheguem às minorias”, alerta. Embora entenda a filosofia de atender às minorias, Edna destaca que o talento e arte deveriam prevalecer. “Não estou julgando os critérios de avaliação. Estou dizendo que só direcionar a verba para as minorias acaba sufocando uma classe que tem talento e que não consegue encontrar soluções”, diz.


Em Catanduva, foi por meio de um edital público que a artista visual Gisele Faganello conseguiu realizar um sonho: assinar um monumento instalado em uma área pública da cidade. A escultura contemporânea de 3 metros de altura, intitulada “Viver Arte”, está instalada no jardim do Teatro Municipal Aniz Pachá e foi realizada por meio de recursos remanescentes da Lei Emergencial Aldir Blanc, conforme edital de Incentivo as Artes. (RF)

‘É difícil viver de arte’, afirma Jocelino

Jocelino Soares diz que, para se consagrar, ‘é preciso estar no lugar certo, na hora certa’ O artista plástico Jocelino Soares afirma que não dá para viver de arte em Rio Preto. “Dá para sobreviver, o que é bem diferente”, destaca. Na opinião dele, para se tornar um artista consagrado é preciso estar no lugar certo, na hora certa, a exemplo do artista naïf José Antônio da Silva (1909-1996) e do pintor e escultor Romero Britto. "Ele se consagrou quando seu quadro foi exposto na mansão (do astro hollywoodiano) Sylvester Stallone”, diz.
Segundo ele, o mesmo aconteceu com Silva, quando seu trabalho despertou o interesse de críticos de arte que participaram de exposição na Casa de Cultura, em 1946.
A artista plástica Edna Carla Stradioto também concorda que é difícil viver de arte em Rio Preto. “A maioria dos artistas é investidor de si mesmo. E aí nós temos duas vertentes: um grupo se mantém com a própria galeria e outro grupo tem a arte como segunda atividade financeira, porque a primeira é aquela que o remunera para manter a sua vida financeira e também a sua carreira”, diz.